Os incas construíram
seu império através da guerra, a estrutura militar desta civilização é que
permitiu o expansionismo em larga escala e para alcançar este grande poder
bélico eles investiram fortemente no “exército” inca.
Os
soldados eram guerreiros treinados e bem equipados, historiadores afirmam que o
exército inca era o que detinha o maior poder bélico das civilizações
pré-colombianas (Longhena,1999). Estes guerreiros possuíam um poderoso arsenal,
machados, maças, dardos e escudos, para longas distancias utilizavam a Huaraca,
uma funda, pois desprezavam o arco e flecha, acreditavam que ele era uma arma
de selvagens da Amazônia.
Existiam
também os soldados da reserva que eram simples trabalhadores convocados quando
acontecia grandes guerras, mas isto gerava problemas para a economia Inca, pois
como não possuíam treinamento o numero de mortos era grande e logo a produção
entrava em crise. Por este motivo o exército permanente tinha que conseguir
enfrentar a maior parte dos combates sozinho.
Uma
demonstração desta habilidade guerreira dos Incas foi à arma que inventaram
quando perceberam que os cavalos espanhóis estavam dando a vitória ao homem
branco, eles produziram boleadeiras, três pedras atadas entre si com tendões de
lhama, elas eram arremessadas nas patas dos cavalos e os derrubava para que os
Incas atacassem.
Porém acima
do treinamento bélico estava o treinamento para se tornar um imperador,
o papel mais importante no império inca era ser o filho do sol, por este motivo
as crianças que estavam sujeitas a ocupar esta posição tinham que passar por um
grande treinamento e apenas aquele que se destacasse mostrando ter diversas
habilidades assumia o trono.
O Império
inca não levava em consideração apenas a questão do primogênito na hora de
escolher o novo imperador, eles avaliavam todo o desenvolvimento dos filhos que
o imperador possuía para decidir quem deveria se tornar o novo regente. O
imperador devia sempre se casar com sua irmã para seguir a tradição de Manco
Capac e manter o sangue da família real puro, mas mesmo possuindo este sangue
era necessário se mostrar inteligente, bravo e digno de ocupar a função.
Desde
muito pequeno os jovens passavam por uma quantidade gigantesca de treinamentos
que envolviam coisas simples e outras consideradas muito ousadas para nossa
cultura. Os garotos estudavam a História Inca, aprendiam a escrever no quipu,
geometria, astronomia e um intenso treinamento militar. O treinamento procurava
medir a bravura dos candidatos então era muito comum a realização de provas
onde se testava a capacidade de resistir ao sono, os garotos ficavam até três
dias sem dormir, também existiam treinamentos de controle corporal onde era
proibido se mexer durante uma grande quantidade de horas.
Outra prática
curiosa era o teste de valentia, os candidatos eram ameaçados com lanças e
tinham que ficar no local sem se mover, mesmo com elas bem próximas aos olhos
deles ou então tinham que resistir sem gritar a ferimentos com bastões. Também existiam atividades mais comuns como o
famoso rouba bandeira, no mundo Inca essa brincadeira era praticada de forma
seria para que os alunos aprendessem a conquistar o território vizinho ou se proteger
de invasores, era muito comum saírem deste jogo com graves ferimentos de
batalha.
Após todo
este treinamento os sacerdotes escolhiam aqueles que eram mais valentes para
serem candidatos ao trono do imperador e a opinião do atual filho do sol contava
na decisão, mais não era um fator dominante. Por este motivo sempre que um
imperador morria o mundo Inca entrava em caos e até que o novo sucessor
assumisse o poder aconteciam muitas guerras internas.
Quando os
jovens terminavam o treinamento eles eram consagrados guerreiros e participavam
de um ritual que envolvia uma perfuração, com uma agulha de ouro eles tinham as
orelhas perfuradas e inseriam pequenas peças de ouro no orifício que iam
aumentando de acordo com o prestigio social, está pratica deu aos sacerdotes
incas o apelido de “Orejones” (orelhudos) durante a conquista e marca a
presença de alargadores na América.
Tudo isto
nos mostra como a sociedade Inca era organizada e possuía grande critério para
escolher seus líderes, não é à toa que os imperadores eram capazes
de administrar um grandioso império que conquistou quase toda a América do sul,
só
que todas essas armas exércitos e treinamentos não foram suficientemente fortes
para impedir a conquista espanhola, podemos acreditar que apenas a arma de fogo
foi um fator decisivo para a conquista? Ou será que o contexto histórico é mais
amplo que isso, com certeza um general é uma peça chave para solucionar
esse mistério.
Conhecido
por muitos como aquele que “descobriu” o Peru e levou a civilização aos povos
bárbaros, ou odiado por todos que apreciavam a civilização inca e a viram ser
destruída a mando deste homem, Francisco Pizarro, um herói desbravador e um
tirano nefasto, Filho bastardo de uma mãe prostituta, abandonado nas escadarias
da igreja de Trujillo, em Esttremadura, teria sido alimentado com leite de uma
porca. Seu pai, Fidalgo de velha estripe e capitão dos tercios, teria aceitado
reconhecê-lo. Ele o obrigou a cuidar dos porcos antes de mandá-lo aprender o
oficio das armas na Itália, para que depois de formado fosse enviado para o
novo mundo junto com outros grupos de homens semianalfabetos e com histórias
semelhantes, desesperados por gloria e em busca de riquezas colonizassem a
América.
É assim
que os pesquisadores descrevem a trajetória do grande Pizarro que desbravou a
floresta e encontrou os Incas, uma triste realidade e um passado cheio de
magoas que Pizarro deixou para traz e ao pisar no novo mundo vez o que pode
para honrar seu nome. Até que em novembro de 1524 seguindo relatos dos nativos
dos Andes, em busca de “Pirú” uma terra repleta de ouro, encontrou um “Puerto
de La Hambre” (porto da fome), onde após travar combates com os índios não
achou riqueza nenhuma.
Após este
fracasso teve que negociar com a coroa espanhola sua permanência e
financiamento de novas explorações, depois de muito custo conseguindo uma nova
oportunidade teve ainda de convencer seus homens de acompanhá-lo, com as
seguintes palavras “Companheiros! De um
lado desta linha estão a morte, as lutas, a fome, as privações e as
tempestades, mas também o caminho que leva ao Pirú e suas riquezas. De um outro
lado a facilidade, mas também o caminho do Panamá e da pobreza. Escolham bons
homens de Castilha!” (CLAUDE,1976) , para o azar dos Incas eles escolheram
ir com Pizarro em busca do Pirú.
Após uma
longa viagem estes exploradores chegaram ao porto de Tumbez e fizeram contato
com o povo inca, na chamada Terra de Pirú, e em uma segunda investida descobrem
as riquezas da região, então iniciaram uma trama para conseguir se comunicar
com os governantes e conseguir conquistar o local através de alianças, já que
estavam em menor número.
Logo os
boatos se espalharam e profecias eram ditas pelos sacerdotes “homens brancos
barbados senhores do relâmpago, montados em animais com patas de prata vindos
das águas onde Viracocha desapareceu” uma descrição fidedigna das lendas incas à
época da chegada de Pizarro e suas tropas. Segundo o relato dos mais antigos
anciãos o maior dos presságios ocorrera na festa do Sol, um ritual que é
praticado anualmente pelos incas, de acordo com os relatos um condor foi
abatido por um grupo de falcões no meio da Praça de Cuzco, o que revelava a
queda do império tendo em vista que o Condor era uma ave símbolo dos Incas. Após
isto a lua surgiu ao céu, mas de uma forma estranha ela estava como eles
descreviam em “Halo triplo, o primeiro cor de sangue, o segundo um
preto-esverdeado e o terceiro parecido com uma fumaça” os sacerdotes leram
então que haveria um grande derramamento de sangue e o império iria se acabar.
Após todos
estes sinais o Huayna Capac ficou terrivelmente doente e faleceu, deixando o Império
para seus filhos que disputariam o poder, antes de morrer cronistas diziam que
suas últimas palavras foram “Nosso pai, o sol, revelou-me que após o reinado
dos doze incas, seus filhos, aparecera nesse país uma espécie de homens que nos
são desconhecidos e que devem dominar nossos Estados. Eles pertencem sem dúvida
ao povo daqueles que vieram outrora do mar... Estejam certos que estes
estrangeiros chegaram a este país e cumpriram a profecia!”.
Pizzarro
retornou para a Espanha em busca de verbas, ele possuía a intenção de conseguir
apoio para poder realmente desbravar aquelas terras desconhecidas, por isto
deixou alguns homens no porto de Tumbez e foi para sua pátria buscar reforços.
Sua
chegada foi vista por muitos como o retorno de um herói, trazia consigo
amostras da terra recém descoberta Lhamas, cerâmicas, taças de metal e tecidos
finos para seduzir as damas. Após um longo período de permanência e tentativas
frustradas de obter aprovação do rei para subsidiar a nova expedição, Pizarro
teve que esperar e só conseguiu capital para retornar ao Pirú pelas mãos da
rainha enquanto o rei estava viajando a negócios, confirmando que os presentes
que trouxera não foram em vão, rapidamente ajuntou tudo o que precisava para a
viagem e levou consigo seus irmãos e outros aventureiros para conquistarem de
vez a nova terra.
Depois de
uma longa viagem chegaram ao solo andino em setembro de 1532, porém este já não
era mais tão amigável como da última vez, uma guerra civil causada pela briga
ao trono tinha destruído grande parte do mundo Inca, dois irmãos disputavam
para comandar o império, Huascar e Atahuallpa.
Como
Pizarro retornou em um mau momento teve que proceder com cautela, mas há anos
os novos imperadores sabiam da presença dos espanhóis, Atauhuallpa pensava que
Pizarro e seus companheiros eram mensageiros do deus Inti-viracocha que vieram
“trazer vingança divina e bater os coveiros criminosos do império, os traidores
do quito que renegaram as tradições e se entregaram a caciques mal saídos da
barbárie” (CLAUDE, pag.22). Por este motivo as grandes bestas (cavalos) que os
espanhóis montavam e as armas com barulho de trovão poderiam significar uma
grande ameaça. Mas mesmo assim o Inca decidiu convidar Pizarro para um encontro
onde ele decidiria se os espanhóis eram uma ameaça ou apenas invasores que
deveriam ser esmagados pelo grandioso exército inca.
Os dois
irmãos brigavam pelo trono, Huascar o filho legitimo do imperador e Atahualpa o
bastardo, mas ambos tinham a mesma possibilidade de assumir o poder, visto que
a nobreza era quem elegia o sucessor avaliando além da primogenitura seus
méritos, capacidades e “favorecimentos que poderia trazer”. Enquanto o conflito
não obtinha um vencedor o império ficou dividido em duas capitais, Quito sobre
o poder de Atahualpa e Cusco sobre controle de Huascar.
Pizarro
por sua vez estava a tramar como poderia se beneficiar da situação e quando foi
convidado pelo poderoso Atahualpa para um encontro de negócios já tinha
planejado como vencer a disputa. Os povos submetidos ao poder dos Incas estavam
descontentes com os altos impostos cobrados para financiar a guerra e também
com as mortes causadas na disputa ao trono, sem falar nos sacrifícios infantis
que Atahualpa exigia para rituais de proteção a sua saúde, com tudo isto
ocorrendo os espanhóis eram vistos pelos povos dominados como uma possível
forma de libertação
O encontro de Pizarro e Atahualpa foi muito
amigável no primeiro momento, o Inca ofereceu chicha ao espanhol, uma bebida de
milho fermentado servida em grandes jarras de ouro, Pizarro compartilhou com o
Inca a Bíblia sagrada dizendo que dali vinha o poder que ele tinha e sua missão
de “salvar o novo mundo”, mas Atahualpa a rejeitou fazendo descaso. No dia seguinte
os espanhóis aprisionaram o Inca e aniquilaram seu exército, sob o pretexto de
terem rejeitado a palavra divina. Atahualpa ficou preso por um tempo enquanto o
mundo Inca entrava em profunda crise, só conseguiu negociar sua liberdade
oferecendo um grande tesouro para Pizarro, uma sala repleta de ouro, os
espanhóis aceitaram e libertaram o Inca visto que ele já não exercia mais o mesmo
poder sobre o povo e seu exército estava dissipado.
Quanto a
Huascar, este teve menos sorte, fora morto por seguidores de Atahualpa deixando
o império Inca sem líder, logo os espanhóis arquitetaram um novo plano e
colocaram um irmão de Atahualpa no trono, apenas para servir de
“monarca-fantoche” seu nome era Manco Inca. Mas os espanhóis se enganaram ao
achar que tinham o império inca na mão, várias guerras civis pipocaram na
região e o “monarca-fantoche” reuniu exércitos para expulsarem os espanhóis dos
Andes.

Em 1541
Pizarro e muitos outros capitães foram assassinados pelos rebeldes, para
Pizzaro este foi o fim, morto pelas mãos das facções que se formaram na guerra
civil que ele alimentara. Mas as guerras não acabaram com sua morte, pelo contrário,
muitas guerras continuaram e os espanhóis tiveram que lutar constantemente com
todas as gerações de Manco Inca até conseguirem controlar ou destruir
tawuantinsuyo e o dividir em vices reinos para colonização, um processo longo e
repleto de revoltas que caminharam por toda História andina até a chegada das independências
no século XIX.
Tudo isso
nos ajuda a compreender como foi a queda desse grandioso império e visualizar
que não foi simplesmente uma destruição gerada por um punhado de homens
brancos, muito menos que o império teve fim, pois ele continua vivo e enraizado
em toda a cultura andina.
Grande
Abraço
Equipe
Marcelo Lambert