Olá amigos.
O
texto que trago essa semana é sensacional e trás uma profunda reflexão sobre a
sociedade na qual estamos inseridos. Através de uma metáfora muito apropriada
Bertold Brecht faz uma grandiosa reflexão sobre a nossa civilização.
Acredito
que esse texto é extremamente apropriado com o atual momento da política
brasileira.
Aproveitem
a leitura.
Se Os Tubarões Fossem
Homens
Se os tubarões fossem
homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais
amáveis para com os peixinhos?
Certamente, respondeu o
Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para
os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal.
Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adotariam todas as
medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana,
ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do
tempo.

Para que os peixinhos
não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando,
pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente
haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam
como nadar alegremente em direção à goela dos tubarões. Precisariam saber
geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam
descansadamente pelo mar.
O mais importante
seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de
que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica
contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem
que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só
estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos
deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e
denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.

Se os tubarões fossem
homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e
peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e
lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos
outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas
silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si.
Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em
outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia
uma comenda de herói.

Se os tubarões fossem
homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros,
representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como
jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam
valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E
a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como
orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes,
precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.

Também não faltaria uma
religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos
peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.
Se os tubarões fossem
homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si.
Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros.
Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria
agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados
maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da
ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias,
construtores de gaiolas, etc.
Em suma, se os tubarões
fossem homens haveria uma civilização no mar.
Nome completo | Eugen Bertholt Friedrich Brecht |
Nascimento | 10 de fevereiro de 1898 Augsburg, Baviera ![]() |
Morte | 14 de agosto de 1956 (58 anos) Berlim Leste, Estado de Berlim ![]() |
Nacionalidade | ![]() |
Ocupação | Poeta, dramaturgo, contista |
MUITA LUZ
DO AMIGO
MARCELO LAMBERT
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