Vivemos Presos ao
Nosso Passado e ao Nosso Futuro
A nós ligam-nos o nosso passado e o nosso futuro.
Passamos quase todo o nosso tempo livre e também quanto do nosso tempo de
trabalho a deixá-los subir e descer na balança. O que o futuro excede em
dimensão, substitui o passado em peso, e no fim não se distinguem os dois, a
meninice torna-se clara mais tarde, tal como é o futuro, e o fim do futuro já é
de fato vivido em todos os nossos suspiros e assim se torna passado. Assim
quase se fecha este círculo em cujo rebordo andamos. Bem, este círculo
pertence-nos de fato, mas só nos pertence enquanto nos mantivermos nele; se nos
afastarmos para o lado uma vez que seja, por distração, por esquecimento, por
susto, por espanto, por cansaço, eis que já o perdemos no espaço; até agora
tínhamos tido o nariz metido na corrente do tempo, agora retrocedemos,
ex-nadadores, caminhantes atuais, e estamos perdidos. Estamos do lado de fora
da lei, ninguém sabe disso, mas todos nos tratam de acordo com isso.

Enfrentar-se a Si
Próprio
Ódio da introspecção ativa. Explicações da nossa
alma, tais como: ontem eu estava assim e assado, por esta ou por aquela razão;
hoje estou assim e assado, por qualquer outra razão. Não é verdade, nem por
esta razão nem por aquela razão, e por isso também nem assim nem assado.
Enfrentar-se a si próprio calmamente, sem precipitações, viver como se tem de
viver, não andar à caça do próprio rabo como o cão.
Adormeci nos arbustos. Um barulho acordou-me. Encontrei um livro nas minhas
mãos, que tinha estado a ler. Deitei-o fora e levantei-me de um salto. Passava
pouco do meio-dia; em frente da colina em que eu estava estendia-se uma grande
planura com aldeias e lagos e sebes todas iguais, altas, que pareciam feitas de
junco. Pus as mãos nas ancas, examinei tudo com o olhar, e ao mesmo tempo
escutei o barulho.
Franz Kafka, in 'Diário (09 Dez 1913)'

Cessa de Correr !
Se não cessas de correr, marulhando no ar tépido
com as tuas mãos como natatórios, olhando furtivamente tudo diante de que
passas no meio-sono apressado, acontecer-te-á também um dia deixar passar
diante de ti o carro. Se te mantiveres firme, pelo contrário, com o poder do
teu olhar fazendo crescer as raízes em profundidade e em comprimento - nada
então te poderá eliminar - em virtude não das raízes mas da força do teu olhar
que escruta - será então que verás o longínquo imutavelmente obscuro de onde
nada pode surgir a não ser precisamente uma vez este carro que rola para ti,
que se aproxima, cada vez maior e que, no próprio instante em que entras em tua
casa, enche o mundo enquanto mergulhas nele como uma criança no banco
acolchoado de uma diligência que corre através da tempestade e da noite.
Franz Kafka, in "Meditações"

O Mais Fundo de Nós
Mesmos
A uma certa altura do autoconhecimento, quando
estão presentes outras circunstâncias que favorecem a auto-segurança,
invariavelmente e sem outra hipótese sentimo-nos execráveis. Todas as medidas
do bem — por muito que as opiniões possam diferir sobre isto — parecerão
demasiado altas. Vemos que não passamos de um ninho de ratos feito de
dissimulações miseráveis. O mais insignificante dos nossos atos não deixa de
estar contaminado por estas dissimulações. Estas intenções dissimuladas são tão
horríveis que no decurso do nosso exame de consciência não vamos querer ponderá-las
de perto, mas, pelo contrário, ficaremos contentes de as avistar de longe.
Estas intenções não são todas elas feitas apenas de egoísmo, o egoísmo em
comparação parece um ideal do bem e do belo. A porcaria que vamos encontrar
existe por si só; reconheceremos que viemos ao mundo pingando este fardo e
sairemos outra vez irreconhecíveis, ou então demasiado reconhecíveis, por causa
dela. Esta porcaria é o fundo mais profundo que encontraremos; nos fundos mais
profundos não haverá lava, não, mas porcaria. É o mais fundo e o mais alto e
até as dúvidas que o exame de consciência origina em breve enfraquecerão e se
tornarão complacentes como o espojar de um porco na imundície.
Franz Kafka, in 'Diário (07 Fev 1915)'

Franz Kafka František Kafka | |
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Nome completo | František Kafka |
Nascimento | 3 de julho de 1883 Praga, Boémia, ![]() ![]() |
Morte | 3 de junho de 1924 (40 anos) Klosterneuburg, República Austríaca (atual ![]() |
Ocupação | escritor |
Movimento literário | modernismo, existencialismo, surrealismo, precursor do realismo mágico |
Magnum opus | A Metamorfose O Castelo O Processo |
Religião | Judeu[1][2][3] |
Causa da morte | Insuficiência cardíaca |
Espero que o artigo dessa semana traga profundas reflexões sobre a sua própria existência. Kafka instiga a todos nós a pensarmos sobre nossas vidas e nossas ações.
Vivemos em um mundo absolutamente tecnológico e precisamos resgatar os valores necessários para uma sociedade mais justa e humana.
MUITA LUZ
DO AMIGO
MARCELO LAMBERT
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